Participação Especial -Professor Gilmar


DISCIPLINA/INDISCIPLINA ESCOLAR: BREVE REFLEXÃO

Gilmar Fiorese[1]

Ao analisarmos alguns aspectos entendidos como problemáticos no interior da escola, ou seja, a partir de manifestações rotineiras, especialmente aquelas reclamações diárias vindas dos professores, ao que tudo indica, a problemática da indisciplina figura entre aquelas que vêm causando maiores inquietações e solicitando muita atenção. Podemos até “arriscar” dizer que, no interior da escola, é quase uma unanimidade a insatisfação no que se refere à indisciplina.
Considerando sua complexidade e às várias dimensões que assume, entendemos que, ao tratarmos da problemática da disciplina/indisciplina escolar, corremos o risco de conceituações simplistas ou até mesmo equivocadas. O que entendemos por indisciplina? Apenas ausência de disciplina? E o que significa disciplina? Apenas presença do silêncio, conquistado sob a égide do medo e da arbitrariedade? Dado os limites desta produção, não faremos uma discussão conceitual da expressão disciplina/indisciplina. Por ora, consideremos apenas a indisciplina como ausência de um ambiente favorável à realização do processo de ensino e da aprendizagem.
Sobre a importância da disciplina para a criança, como condição necessária ao processo da aquisição do saber, Gramsci afirma:
[...] é igualmente certo que será sempre necessário que ela se fatigue a fim de aprender e que se obrigue a privações e limitações de movimento físico, isto é, que se submeta a um tirocínio psicofísico. Deve-se convencer a muita gente que o estudo é também um trabalho, e muito fatigante, com um tirocínio particular próprio, não só muscular-nervoso, mas intelectual: é um processo de adaptação, é um hábito adquirido com esforço, aborrecimento e mesmo sofrimento (GRAMSCI, 1991, p. 138-139).
Anton Makarenko, pedagogo e escritor ucraniano (1888 – 1939), ao fazer a relação educação e disciplina, afirma que esta última não deve ser entendida como o meio para uma boa educação. Se, por um lado, a apropriação do conhecimento é algo difícil, que exige esforço e exige disciplina, é verdade também que a disciplina é resultado de todo o processo educativo. Portanto, tanto para os pais quanto para a escola, é pertinente o lembrete: para a garantia do acesso ao saber historicamente produzido pela humanidade faz-se necessário a disciplina e para conquista da disciplina ou da autodisciplina é necessária uma boa educação.
Recomendamos muito especialmente aos pais que se recordem sempre deste princípio essencial: a disciplina não é um efeito de certas medidas disciplinares, mas de todo o sistema de educação, de todos as circunstâncias da vida, de todas as influências a que estão submetidas as crianças. Neste sentido, a disciplina não é a causa, não é o método, não é o meio de uma boa educação, mas o seu resultado (MAKARENKO, 1976, p. 379).
A disciplina assim entendida nasce de todas as experiências sociais. Portanto ela está profundamente relacionada, além de outras instituições, com a escola e com a família. Para Makarenko, o verdadeiro trabalho educativo está profundamente relacionado a um trabalho de organização: organização da vida pessoal, da família, da criança e, certamente também, na organização da escola. Ao afirmar a importância e o caráter educativo da organização, este autor enfatiza os pormenores, ou seja, os pormenores no trabalho educativo são tão importantes quanto aqueles entendidos como de “maior importância”.

REFERÊNCIAS:

GRAMSCI, Antonio. Os intelectuais e a organização da cultura. 8ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1991.

MAKARENKO, Anton. O livro dos pais. Lisboa: Horizonte Pedagógico, 1976, (vol. 2).
_____________________________
[1] Professor da UNIOESTE – Campus de Francisco Beltrão - Paraná






Nenhum comentário:

Postar um comentário